É quase uma unanimidade que a terceira temporada de The Walking Dead foi de mediana para a fraca, difícil saber com apenas um episódio se a nova será ou não melhor, mas pelo menos trouxe na sua estreia os dois melhores elementos da série, zumbis e o terror psicológico.
A vida de uma sociedade na fazenda, com suas plantações, animais para comê-los, cavalos, sem nada para fazer então relacionamentos começam a acontecer, ah e claro de vez em quando matar um ou outro zumbi! Como contado por Beth, a noia viúva, a prisão ficou 30 dias sem acidentes ou melhor mortes. Com os novos resgatados o número de moradores na prisão cresceu bastante e um conselho foi formado, liderado pela voz da experiência e Hershel, Daryl, Sasha, Carol e Gleen. Todos estão tentando a sua maneira encontrar uma maneira de viver no inóspito local.
Rick, o fazendeiro, tenta fugir das armas e tenta se preocupar mais com a vida do local do que acontece fora das grades, se não fosse o conselho de Hershel, Rick poderia ter morrido durante uma viagem para fora da prisão. O terror psicológico e horror de viver em um mundo pós-apocalíptico se viu na forte cena de Rick com a estrangeira que encontrou na floresta, uma moça que mais parecia um zumbi diante de seu estranho aspecto físico. A caminhada e a conversa entre os dois remeteram ao tema que Rick estava tentando fugir de ter que encarar certos sacrifícios pela sua própria vida e daqueles que ama, seja abandonar outras pessoas desesperadas ou matar aqueles que coloquem suas vidas em riscos, em um cenário apocalíptico os valores sociais não existem.
A maneira que a jovem contou a sua história de uma estrangeira que ficou presa em país diferente e sendo salva por um homem foi bonita e triste, a maneira que tudo foi rodado ajudou aumentar ainda mais o clima de um mundo deprimente. Estava na cara que ela escondia algo e mesmo assim Rick decidiu dar um voto de confiança para a estranha, a moça chegou a um ponto de amor e dívida com o homem que a ajudou que quando ele transformou-se em zumbi, não teve coragem de matá-lo e sim até o alimentou, por pouco com o próprio Rick. A jovem não queria abandonar o homem que a salvou e por isso deu a sua própria vida para ficar ao seu lado como um zumbi, um gesto horripilante e que revela o lado mais triste desta história. Rick mesmo armado deixou a jovem ter o seu direito de fazer o que queria e foi embora sem olhar para trás deixando o casal zumbi. O que se viu em Rick aqui na estreia foi um homem traumatizado e com medo de deixar seus filhos sozinhos, e com medo do dia que for sair e não voltar mais, algo que Hershell tentou acalmá-lo de que não acontecerá, o que é uma mentira, pelo que se viu no segundo enredo.
Daryl virou uma espécie de herói, o homem misterioso que é idolatrado por aqueles que salvou as vidas e os levou para um lugar seguro, criando assim uma lenda em seu nome. Daryl foi ao lado de um grupo examinar um supermercado que serviu de base militar e que tinha sido atacado pelos zumbis. O grupo foi formado por Sasha, mais forte e decidida; Michonne, a loba solitária ainda em busca de vingança contra o Governador, Glenn preocupado com uma possível gravidez de Maggie; Tyreese que arranjou uma bela namorada e queria uma aventura fora das grades da prisão; o novo personagem Bob, um ex-médico do exército e ex-alcoólatra e Zack, o namoradinho de Beth.
A questão escondida do episódio foi se o real perigo está dentro ou fora da prisão, Daryl e seu grupo foram em uma missão que parecia comum, mas ao falharem e não checarem o teto do local, colocaram suas vidas em risco. Um dos principais personagens desta temporada será Bob, um homem que luta contra os fantasmas de seu passado, o maior deles o vício ao álcool, que quase levou a todos a morte, por um mero acidente. A cena do supermercado foi uma das melhores da série envolvendo zumbis, tudo funcionou direito. Os zumbis no telhado caindo no meio do supermercado, alguns bastante machucados e mesmo assim prontos para comer; a falta de luz do local, a surpresa que vinha do céu e poderia surgir a qualquer momento’; Glenn quase morrendo; depois Daryl e até Bob, mas alguém teria que ir embora e foi Zack, deixando a coitada da Beth tão jovem e já viúva.
Ainda melhor que a cena do ataque, terminando com um helicóptero (!) caindo do teto, foram as consequências de mais uma saída da prisão que acabou em uma morte. Tyreese repensou a ideia de que talvez a prisão seja o local a ficar para sempre e não sair dela; Bob sentiu o peso da responsabilidade de que um jovem morreu por sua causa, algo que ninguém nem desconfia. Glenn viu o quanto o mundo fora do local é perigoso e não quer colocar uma criança nele, por isso a felicidade ao ver que Maggie não está grávida. Gostei muito diálogo entre o casal, com Glenn afirmando que o medo é o que mantém eles vivos e Maggie afirmando que isso é que faz eles respirarem, mas não viverem, uma profunda verdade.
É fácil criar um paralelo entre Beth e Carl, a primeira depois de perder tantas pessoas amadureceu de verdade a conversa e o abraço dela em Daryl foi de uma garota que não consegue mais chorar e já viu tanta tristeza e morte que fica feliz somente de ter conhecido alguém, mesmo sabendo que essa pessoa irá morrer em breve. Daryl é o guerreiro solitário e que dentro de si se entristece a cada pessoa que perde ao seu lado.
Enquanto Beth amadurece, Carl é o jovem senhor, por um lado não que fazer atividades para crianças, mas não dispensa sua leitura de quadrinhos e coloca nomes em animais que sabe que vão morrer em breve. Essa contradição entre a ingenuidade e maturidade é que faz Carl um personagem essencial para o desenvolvimento da trama, o olhar dele ao ver Carol dando escondida aulas de defesa com armas para pequenas crianças, foi de um jovem que não quer crescer em um mundo como este.
Toda essa falsa segurança da prisão está prestes a cair com uma ameaça interna, possivelmente uma peste que matou o porco e levou o jovem nerd no final do episódio. Perigos internos que muitas vezes serão, como sempre, mais perigosos que os próprios zumbis.
tvcinemaemusica.wordpress.com 