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Crítica: Robocop

RoboCop-4Com o sucesso internacional de Tropa de Elite, o diretor brasileiro José Padilha naturalmente chamaria atenção de Hollywood e o remake de Robocop parecia um projeto que se encaixava em seu perfil por ser tanto uma história policial como também ter o seu teor político; entretanto as diferenças entre o cinema feito aqui e no EUA fazem com que a estreia de Padilha faça uma estreia comum e menos autoral em Hollywood.

A trama é levemente adaptada para os tempos atuais; nela a empresa norte-americana Ominicorp conseguiu colocar seus robôs policiais ao redor do mundo lutando no lugar dos militares americanos em guerras em outros países; entretanto o líder da empresa Raymond Sellars (Michael Keaton) não consegue convencer o governo e o povo americano a aceitarem colocarem seus robôs no lugar dos policiais humanos nas ruas de Detroit. Diante do medo da sociedade de confiar sua segurança em uma máquina; a solução de Sellars é com ajuda do doutor Dennett Norton (Gary Oldman, da trilogia Batman) colocar um homem dentro de uma máquina criando assim a combinação que faria o povo americano aceitar suas máquinas nas ruas. O escolhido para experiência é Alex Murphy (Joel Kinnaman, de The Killing); um detetive que após sofrer um atentado fica entre a vida e a morte; então o doutor Norton vende para a esposa (Abbie Cornish, de Sucker Punch) do policial a ideia de que esta maneira seria a única maneira de salvar a vida de seu marido.

RoboCop-2O novo Robop faz sua crítica social de uma forma mais séria do que o humor propositalmente escrachado do filme original; o roteiro do estreante Joshua Zetumer  difere da obra original por ser bem menos audacioso e sua ideologia política ser muitas vezes confusa. O longa insiste o todo tempo na questão de homem contra máquina para decidir qual dos dois seria o melhor para defender a humanidade; questão debatida do começo ao fim através do personagem de Samuel L. Jackson que vive ironicamente um típico apresentador de um programa sensacionalista, e que lembra bastante os nossos apresentadores de programas policiais. O roteiro exagera no seu discurso brando e não decidido; faz a crítica e ao mesmo tempo não toma um lado deixando para o público essa opinião sem realmente apresentar fatos para se criar uma opinião; um temor burocrático de colocar um tema em discussão, mas não querer se aprofundar no mesmo.

Um filme  doRobocop com poucas cenas do policial do futuro; preso nos debates sociais do roteiro o filme realmente não aproveita ao máximo seu personagem principal que é colocado exclusivamente para as cenas de ação e através dela chega a lembrança de ser um filme dirigido por Padilha. Nas cenas de ação é possível enxerga a assinatura do diretor brasileiro que com cenários maiores e um enorme orçamento refaz suas cenas de tiroteios visto nas favelas de Tropa de Elite agora nas ruas desta Detroit futurista; a melhor de todos envolve uma luta entre Robocop e outros robôs em um prédio abandonado; uma cena arquiteta e a única onde é possível ter a sensação de ver na prática as habilidades de um homem misturado com máquina.

RoboCop-3Assim como seu personagem o ator sueco Joel Kinnaman vive mecanicamente seu personagem onde existe pouca diferença da sua versão humana e da sua versão máquina; o suposto arco dramático envolvendo sua família não se concretiza diante da inexistente química dele e a caricata atuação de Abbie Cornis; outro ponto fraco é a própria história de vingança do protagonista contra aqueles que o tentaram matar. Com menos Robocop quem se sobressai é o inicialmente coadjuvante Gary Oldman como um doutor preso no poder que sua própria experiência lhe dá ao ter em suas mãos a vida de um homem para poder controlar da maneira que o quiser; um doutor que inicialmente parece preocupado mais no bem-estar de seus pacientes e que ao longo da história perde o controle da sua própria experiência tirando do Robop o seu lado humano e prevalecendo o lado máquina. Muito mais que um fio condutor para a trama principal; Oldman dá profundidade ao seu personagem e ao lado da divertida atuação de Samuel L. Jackson rouba atenção que deveria ser dada ao protagonista.

RoboCop-4O remake de Robocop era um projeto muito antigo da MGM que teve diversos problemas para tirá-lo do papel; o estúdio escolheu Padilha para comandar o projeto sabendo de suas habilidades para cenas de ação policiais e nessa parte o diretor brasileiro fez  corretamente o pedido. Seria utópico acreditar que Padilha um diretor estrangeiro e estreante em Hollywood faria com Robocop um novo Tropa de Elite; Hollywood é muito diferente da nossa indústria cinematográfica e são raros os diretores que realmente podem fazer obras pessoais e não ficam presos as ordens dos produtores e estúdios.

O Robocop de José Padilha e tambem da MGM é um típico blockbuster e remake hollywoodiano da atualidade, puro entretenimento descartável e sem personalidade; não superando, igualando ou trazendo algo inovador para o clássico filme de 1987 de Paul Verhoeven.

tres

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