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Crítica: A Caça

jagten-06A imaginação de uma criança é algo quase sem limite, por ainda não ter muita noção do certo e errado; é capaz de quebrar as barreiras que os adultos respeitam tanto; como de contar uma mentira que pode destruir a vida de outra pessoa. Uma mentira contada por uma criança ganha um tom de caos em A Caça; onde o diretor Thomas Vinterberg (Submarino) explora a mentira e o tema da pedofilia, no filme indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Na trama, Lucas (Mads Mikkelsen, de Hannibal) é um professor de jardim de infância em uma pequena cidade, daquele tipo onde todo mundo se conhece e é amigo. Lucas com seu jeito meio calado e boa pessoa; é adorado por todos, inclusive pela pequena Kiara (Annika Wedderkopp), a filha de seu melhor amigo. Kiara é uma criança visivelmente solitária, em uma casa onde os pais vivem brigando e não dão muita atenção a ela; além de um irmão adolescente que a expõe precocemente ao sexo quando comenta sobre um pênis ereto na frente da menina.

Kiara começa a criar um carinho forte por Lucas porque vê nele a figura paterna que não encontra em casa; além de uma certa paixão típica de uma criança que não tem noção dos limites entre adultos e crianças; a ponto de dar um beijo na boca de Lucas. O professor educadamente a reprime dizendo que isso é coisa para ser feita entre mamães e papais; Kiara em sua confusão infantil se sente humilhada pela repressão do professor e acaba inventando para a diretora da escola que Lucas mostrou o seu pênis ereto para ela; misturando assim a frase dita pelo seu irmão que talvez nem compreenda totalmente.

jagten-cropped-1200x450-per-arnesenA mentira torna-se um fato verdadeiro diante da própria culpa de Kiara que com medo de levar uma bronca tenta desmentir a sua própria hisória; porém os adultos cegos por ódio preferem acreditar na primeira versão contada pela criança. Mesmo sem provas e com a própria vítima desmentindo a história; Lucas torna-se uma pessoa odiável em toda a cidade, porque a população local já fez o seu julgamento próprio contra o professor.

O diretor e roteirista Thomas Vinterberg (Submarino) retoma a contar uma história sobre pedofilia; tema do seu primeiro filme Festa de Família (1998); porém desta vez em tom mais sério e dramático. Vinterberg explora bem como um fato como a pedofilia afeta todos ao seu redor e como um ódio cresce dele; a pedofilia é um dos raros temas em que quase toda a sociedade considera um ato desprezível e até pior que tirar a vida de outra pessoa. Como a caça é uma atividade adorada na cidade; Vinterberg pega o tema e coloca Lucas, até então um bom caçador, como o animal perseguido; o roteiro explora como em uma situação como essa faz com que os envolvidos revelem o um comportamento animal. O falso culpado Lucas torna-se a presa perfeita; por ser quieto, tímido, um homem que não desiste de mostrar que é inocente.

JagtenLucas luta constantemente pela sua dignidade; mesmo colocado em uma situação de ameaça e medo, como na cena do supermercado. Lucas não muda seu comportamento gentil e postura mansa; sempre com um olhar calmo até explodir na frente do seu melhor amigo e pai da suposta vítima; cena crucial para o entendimento do enredo. Mads Mikkelsen, premiado como Melhor Ator no Festival de Cannes; está impecável em um papel que precisa de uma entrega total dele.

No último ato Vinterberg cria uma cena atípica para filmes do gênero e faz uma análise da falsidade dos moradores da cidade e seu comportamento com Lucas; que descobre que essa mancha em sua vida nunca será realmente apagada e para sempre será caçado.

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