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Crítica: Confiar

Com assustadora evolução da internet e seus meios para se manter conectado é quase impossível encontrar alguém que pelo menos tenha um e-mail. Claro que a internet acaba sendo usada principalmente pelos jovens e numa idade cada vez menor, mas como tudo na vida existe aqueles que usam a tecnologia para o bem e outros para o mal.

O drama Confiar discute um dos principais e mais polêmicos temas, o que os adolescentes estão fazendo na internet, seus pais realmente sabem sobre a vida virtual dos seus filhos e o mais importante com quem os conversam. O filme dirigido por David Schwimmer (o Ross de Friends) discute o tema de uma forma diferente, ousada e demonstra o quão sério e perigosa a internet pode acabar sendo nas mãos das pessoas erradas.

 Na trama, a jovem Annie (Liana Liberato) é uma adolescente normal que vive numa família aparentemente perfeita, com seus pais Will (Clive Owen) e Lynn (Catherine Keener) e seu irmão mais velha. Annie vive em um ambiente saudável, com uma família feliz, pais cuidadosos e carinhosos, o cenário perfeito para você acreditar que uma tragédia nunca aconteceria nesta família.

Annie mantém uma amizade virtual com um jovem chamado Charlie, os dois acabam criando um grande laço e conversam cada vez mais e descobrem ter muito em comum. A trama é realista ao extremo inicialmente com uma linguagem jovem para explicar e aproximar o filme para os jovens, tudo parece um romance de dois adolescentes que se conheceram na internet, o que muda rapidamente.

 Charlie ganha cada vez mais confiança de Annie, que acredita ter encontrado seu par perfeito, mas aos poucos ele revela que não é o que parece ser, de um adolescente ele acaba revelando ser um universitário, mesmo assim Annie aceita marcar um encontro com ele. Quando Annie finalmente aceita encontrar Charlie em um shopping, local que deveria ser seguro, ela acaba descobrindo que na verdade seu amor adolescente é um homem adulto com mais de 30 anos. Pela falta de experiência e pelas conversas anteriores, Annie acaba caindo na lábia do homem e vai para um hotel com Charlie e é estuprada.

É no segundo ato e depois da tragédia que o longa mostra seu diferencial e a maneira certa para discutir o assunto, os pais de Annie acabam descobrindo o que aconteceu e nesta hora a trama dá uma grande virada. O roteiro inteligente não se desgasta em ficar discutindo a procura do predador sexual e sim como a tragédia vai afetar a vida de uma família aparentemente perfeita. O filme bastante pesado e corajoso coloca em discussão como isso afeta a todos os envolvidos e principalmente como afeta a jovem que foi estuprada. A descrição da cena do estupro é feita de uma maneira leve e sem realmente mostrar nada, mesmo assim é chocante porque faz você imaginar o horrível ato.

Annie realmente não acredita que foi estuprada, ela acha que Charlie a ama e que ninguém entende isso, principalmente seus pais. Do outro lado, Will erroneamente culpa sua filha pelo que aconteceu e parte em busca de vingança, começando a criar uma mania de querer encontrar o homem que feriu sua filha. Enquanto Will fica obsessivo para achar o estuprado ele também começa a se distanciar da sua família e de Annie, a relação inicialmente boa de pai e filha se transforma em ódio.

Porém o principal tema é a maneira como aborda a questão que Annie no fundo realmente acredita que nada demais aconteceu, somente conheceu um homem que a ama. A trama na maior parte do tempo também levanta a questão de até quanto Annie foi culpada pelo que aconteceu.

Por mais que todos tentem convencer Annie, a jovem se revolta cada vez mais e acha que todos só querem prejudicar ela e seu amor Charlie. A jovem vai aos poucos percebendo o que realmente aconteceu e a cena na qual ela percebe que foi realmente estuprada é extremamente emocionante.

O longa não ganharia esse tom tão realista se não fosse o bom elenco, Owen faz uma atuação segura como um pai em busca de justiça, Catherine Kenner, acostumada a fazer comédias, participa pouco mas se saí bem. O grande achado é a jovem Liana Liberato que está perfeita como Annie, faz uma atuação madura e forte, trazendo ainda mais peso para a história, uma atriz que deve ter um grande futuro.

Claro que a maior surpresa fica para Schwimmer que faz um excelente trabalho como diretor tanto na parte técnica como na maneira de abordar o assunto. Muito disso se deve ao trabalho que o ex-Friends faz há anos na Rape Foundation, organização que apoia vítimas de assédio sexual, principalmente adolescentes que foram estupradas.

Confiar é um filme atual que conseguiu mostrar um tema polêmico de uma maneira realista e coerente, não dá respostas e sim faz o público pensar sobre o assunto. A cena final é um alerta para todos, seja os professores, policiais, pais ou adolescentes e levanta a principal questão sobre quem realmente você pode confiar.

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